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Guerra Fria


Início da Guerra Fria 


Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo foi marcado por muitas transformações. Durante mais de 40 anos, os Estados Unidos e a União Soviética se enfrentaram na economia, na ciência, na tecnologia, no campo ideológico, na espionagem, nos esportes olímpicos e até nas missões espaciais. Os Estados Unidos lideravam o bloco dos países capitalistas, enquanto a União Soviética liderava boa parte dos países socialistas. 

Esse período ficou conhecido pela expressão Guerra Fria, pois o conflito entre as superpotências não foi direto, com bombas e tiros, o que levaria a uma “guerra quente” entre os Estados Unidos e a União Soviética. Mas ocorreu de forma indireta em quase todos os continentes do mundo. Onde houvesse um conflito, os Estados Unidos apoiariam seus aliados e, por sua vez, a União Soviética apoiaria também seus amigos políticos. 

Conferências dos vencedores do conflito mundial 

Antes mesmo da rendição alemã, em fevereiro de 1945, os governantes das três principais potências aliadas (Churchill, da Inglaterra; Roosevelt, dos Estados Unidos; e Stalin, da União Soviética) reuniram-se na Conferência de Yalta, na Crimeia (região da Ucrânia, atualmente ocupada pela Rússia). O objetivo era estabelecer os rumos da política internacional após o fim da guerra. Para isso, definiram as bases da futura Organização das Nações Unidas (ONU) e as condições que seriam impostas aos derrotados na Segunda Guerra Mundial, especialmente aos alemães e japoneses. 

Meses depois, em julho de 1945, os líderes das potências vitoriosas se reuniram na Conferência de Potsdam, na Alemanha. Nessa nova conferência ficou decidido que o território alemão seria dividido em zonas de ocupação francesa, britânica, estadunidense e soviética. Apesar de alguns acordos, as divergências entre os antigos aliados ficaram evidentes.

 Em 1946, o inglês Winston Churchill referiu-se a esse fato dizendo que uma “cortina de ferro” havia descido sobre a Europa oriental. Stalin, por sua vez, defendia que o capitalismo era uma ameaça à paz mundial. Começaram ali as rivalidades e acusações que marcariam a Guerra Fria.

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Líderes aliados reunidos na Conferência de Yalta. Sentados, da esquerda para a direita, Churchill, Roosevelt e Stalin. Atrás deles, em pé, os respectivos ministros de relações exteriores, Eden, Stettinius e Molotov. Fevereiro de 1945.


Muro de Berlim Em 1949, os países Aliados (Estados Unidos, Inglaterra e França) unificaram suas zonas de ocupação na Alemanha, fundando um novo país. Os soviéticos fizeram o mesmo, dando origem à divisão da Alemanha, que permaneceu, até 1989, da seguinte forma:
República Federal Alemã (RFA), ou Alemanha Ocidental, com capital em Bonn e sob a influência dos Estados Unidos; 
• República Democrática Alemã (RDA), ou Alemanha Oriental, com capital em Berlim e sob a influência da União Soviética. 

A cidade de Berlim também foi dividida em duas partes. A parte ocidental da cidade ficou sob o controle da RFA, enquanto a parte oriental permaneceu sob o controle da RDA. Entre 1948 e 1952, Berlim Ocidental foi reconstruída com o apoio econômico dos Estados Unidos. A cidade prosperava e atraía os moradores da parte oriental, onde a reconstrução era lenta. Entre 1949 e 1961, aproximadamente 2,5 milhões de pessoas mudaram-se do lado oriental para o lado ocidental de Berlim. Para impedir essa migração em massa, em agosto de 1961 o governo da Alemanha Oriental ergueu uma cerca de arame farpado de 150 quilômetros, separando os dois lados de Berlim.

A partir de 1962, a cerca foi substituída por um muro de concreto. Depois, o muro recebeu torres de vigilância e áreas minadas. As pessoas que defendiam o governo da Alemanha Oriental consideravam o Muro de Berlim algo necessário, um muro antifascismo para evitar influências ocidentais. Já as pessoas que apoiavam o regime da Alemanha Ocidental consideravam o Muro de Berlim um desrespeito e uma violação ao direito de ir e vir. Por isso, chamavam essa barreira de muro da vergonha. A divisão da Alemanha e de Berlim durou até 1989, embora contrariasse a vontade da maioria dos alemães.



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Bettmann Archive/Getty Images. Jovens em Berlim Ocidental tentam conversar com familiares em Berlim Oriental. Fotografia do início dos anos 1960




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Ilustração artística representando o Muro de Berlim durante a Guerra Fria


Organização das Nações Unidas (ONU) No ano em que terminou a Segunda Guerra Mundial, representantes de 51 países, incluindo o Brasil, assinaram a Carta das Nações Unidas, que deu origem à fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Nova York. 

Os princípios contidos na Carta das Nações Unidas tratam da manutenção da paz e da segurança internacionais. Além disso, buscam promover a cooperação entre as nações por meio do desenvolvimento econômico, social e cultural e do respeito aos direitos humanos.

 Atualmente, a ONU possui diversos órgãos para implementar seus objetivos. 

• Assembleia Geral: órgão fundamental da ONU, composto por todos os Estados-membros da organização. 

• Secretariado: entidade que cuida da administração da própria ONU.

 • Corte Internacional de Justiça: órgão encarregado de decidir as questões jurídicas internacionais que são levadas à apreciação da ONU. 

Conselho de Segurança: órgão encarregado de promover a paz no mundo. Dentre os Estados-membros do Conselho de Segurança, cinco são permanentes: Estados Unidos, França, Reino Unido, República Popular da China e Rússia. Os membros permanentes são os únicos com poder de vetar medidas que envolvem segurança propostas à ONU. Por isso, eles conseguem impor seus interesses sobre a maioria das nações.



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Sergi Reboredo/Alamy/Fotoarena - O edifício-sede da ONU foi projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer e pelo francês Le Corbusier. O prédio fica na cidade de Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 2017



Direitos humanos Em 1948, a Assembleia Geral da ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa declaração serviu de base para outros documentos que tratam dos direitos humanos e também como uma referência importante para a definição de normas constitucionais de alguns países. A Constituição federal do Brasil, por exemplo, incorporou alguns artigos inspirados nessa declaração. No entanto, muitos preceitos da Declaração Universal dos Direitos Humanos ainda não saíram do papel. Então, cabe a todos nós lutar para que esses direitos fundamentais sejam cumpridos.



Artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948


Europa dividida Entre 1948 e 1951, países da Europa Ocidental como Inglaterra, França, Itália e Alemanha Ocidental receberam ajuda dos Estados Unidos para a reconstrução de suas economias, abaladas pela guerra. Conhecida como Plano Marshall, a ajuda visava tornar esses países uma espécie de modelo de reconstrução econômica capitalista e impedir o avanço do socialismo na Europa. 

Já na Europa Oriental, vigorou o socialismo soviético. Para controlar a região, o governo da União Soviética contribuiu com a instalação de governos dirigidos por partidos comunistas únicos. Esse processo atingiu Polônia, Alemanha Oriental, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia e Albânia.

Durante a Guerra Fria, também foram construídas alianças militares que dividiram os blocos rivais. Do lado ocidental, formou-se, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sob a liderança dos Estados Unidos. Do lado soviético, formou-se, em 1955, a aliança militar conhecida como Pacto de Varsóvia, sob a liderança da União Soviética. Observe no mapa os países da Europa membros do Pacto de Varsóvia e da Otan.


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Fonte: elaborado com base em ENCICLOPÉDIA das guerras. São Paulo: M. Books, 2005.


Corrida armamentista e espacial 

A chamada corrida armamentista levou ao rápido desenvolvimento de armas nucleares. Estados Unidos e União Soviética aceleraram a produção de armas de destruição em massa e, em 1950, as duas potências já possuíam a bomba atômica.

Conscientes da catástrofe que resultaria de uma guerra nuclear, movimentos pacifistas mundiais lutaram contra a Guerra Fria, que provocava outras competições entre os blocos rivais, como a corrida espacial.

 Um dos marcos da corrida espacial foi o lançamento do primeiro míssil intercontinental soviético, em agosto de 1957, que permitiria atacar qualquer país do mundo a partir de bases em território soviético. Em contrapartida, em dezembro de 1957, os estadunidenses também lançaram um míssil intercontinental, o Minuteman. 

 Em outubro de 1957, os soviéticos lançaram o Sputnik I, o primeiro satélite artificial do mundo. Em 1961, viria um novo triunfo soviético com o lançamento da nave espacial Vostok I, tripulada por Yuri Gagarin (1934-1968), o primeiro astronauta a fazer um voo em torno da Terra. Viajando na órbita terrestre, Gagarin foi o primeiro ser humano a ter uma visão externa do planeta. Impressionado, ele disse a frase: “A Terra é azul”. 

Em julho de 1969, os Estados Unidos enviaram a Apollo 11 à Lua. O astronauta Neil Armstrong (1930-2012) foi o primeiro ser humano a pisar no solo lunar. Ao dar os primeiros passos na Lua, ele também disse uma frase que se tornou famosa: “Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade”. 

A partir da década de 1970, os conhecimentos adquiridos na corrida espacial foram usados em diversos campos, como satélites de telecomunicação, meteorologia, espionagem e observação militar.

Revolução Cubana 

Na América Latina, ocorreu um caso de tensão extrema durante a Guerra Fria. Vamos entender alguns aspectos desse momento histórico. 

Em 1898, com o apoio militar dos Estados Unidos, Cuba tornou-se independente da Espanha. Após a independência, a economia cubana manteve seu perfil colonial, dependendo da produção e exportação de açúcar. 

Os Estados Unidos eram os principais compradores do açúcar cubano e exerciam forte influência sobre o país. Essa influência se manifestou até mesmo na Constituição cubana, com a emenda Platt. Essa emenda concedia ao governo dos Estados Unidos o direito de intervir em Cuba caso seus interesses fossem ameaçados. Além disso, em 1903, os estadunidenses negociaram a instalação da base militar de Guantánamo em território cubano, que funciona até hoje. 

 De 1934 a 1958, o político cubano Fulgêncio Batista (1901-1973) foi o “homem forte” de Cuba, mantendo-se leal aos interesses dos Estados Unidos. No exercício do poder em Cuba, Fulgêncio acumulou fortunas por meios ilegais e agia violentamente contra seus adversários.


Fonte: elaborado com base em ATLAS geografia


Socialismo em Cuba Em 1956, guerrilheiros cubanos comandados por Fidel Castro (1926-2016) e Ernesto “Che” Guevara (1928-1967) levantaram-se contra a ditadura de Fulgêncio Batista e formaram um grupo armado que a derrubou em janeiro de 1959. 

Com a tomada do poder, os revolucionários caminharam rumo ao socialismo. Diversas empresas estadunidenses tiveram suas propriedades estatizadas pelo governo de Cuba. Muitos cubanos, que discordavam do governo de Fidel, foram perseguidos e emigraram para os Estados Unidos. Surgiu, então, uma série de conflitos entre o governo de Fidel Castro e o estadunidense. 

Os momentos de maior tensão entre Estados Unidos e Cuba foram:

Invasão da baía dos Porcos – em 1961, uma tropa militar composta de exilados cubanos desembarcou na baía dos Porcos na tentativa de derrubar o governo do país. Essa tropa havia sido treinada e financiada pelo governo dos Estados Unidos. As forças leais a Fidel derrotaram os invasores e o governo cubano reforçou sua adesão ao bloco socialista; 

Bloqueio a Cuba – o governo dos Estados Unidos pressionou os países americanos para que apoiassem a decisão de suspender Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA), o que ocorreu em 1962. Além disso, impôs um bloqueio econômico, proibindo o comércio com a ilha;

Crise dos Mísseis – a aproximação dos cubanos com os soviéticos levou à decisão de instalar em Cuba mísseis nucleares soviéticos com capacidade para atingir os Estados Unidos. O presidente dos Estados Unidos, John Kennedy (1917-1963), reagiu à instalação dos mísseis ordenando à Marinha estadunidense que bloqueasse a ilha de Cuba, impedindo a chegada de navios soviéticos carregando mísseis. O episódio ficou conhecido como a Crise dos Mísseis, um dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Diante do risco de um confronto direto entre Estados Unidos e União Soviética, os líderes desses países fizeram um acordo para a retirada dos mísseis de Cuba e de mísseis estadunidenses da Turquia, que também ameaçavam a União Soviética


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UIG/Universal Images/Fotoarena - Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara conversando. Fotografia de 1959



 Cuba contemporânea

A Revolução Cubana fragilizou a influência dos Estados Unidos na América Central. Seus líderes construíram o primeiro Estado socialista do continente americano. Fidel Castro implantou uma ditadura em Cuba, inspirada no regime soviético. 

Depois de décadas no poder, o governo cubano conquistou êxitos no campo social, como a eliminação do analfabetismo, a ampliação do acesso à saúde pública e a redução da taxa de mortalidade infantil.

 Entretanto, o país permanece como uma ditadura do Partido Comunista. Fidel Castro ficou à frente do governo por 49 anos. Em fevereiro de 2008, transferiu o poder a seu irmão, o general Raúl Castro. Fidel morreu em novembro de 2016, aos 90 anos de idade. 

Raúl Castro exerceu a Presidência de Cuba por 10 anos e, em abril de 2018, transferiu o cargo para Miguel Díaz-Canel. No entanto, Raúl permaneceu no comando do Partido Comunista e liderando as Forças Armadas. 

Nos anos da Guerra Fria, Cuba foi favorecida pelas relações comerciais com a União Soviética, que comprava cerca de 60% do açúcar produzido na ilha. Além disso, os soviéticos forneciam aos cubanos uma série de produtos subsidiados, como petróleo, veículos e equipamentos. Porém, a partir de 1991, com o fim da União Soviética, a situação econômica de Cuba se complicou. 

Em busca de alternativas, o governo cubano passou a investir mais intensamente na agroecologia e no turismo, cujas principais atrações são as praias e o patrimônio histórico da ilha. Também ampliaram-se as relações comerciais com a China, a Venezuela e outros países da América Latina. 

 Raúl Castro, durante seu governo, promoveu certa abertura econômica em Cuba, reduzindo o número de funcionários públicos, abrindo possibilidades de trabalho em lojas particulares e pequenos negócios e criando zonas de desenvolvimento para instalação de empresas estrangeiras. Em dezembro de 2014, Barack Obama e Raúl Castro anunciaram a retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, depois de 53 anos de afastamento entre as duas nações. 


Ditaduras na América Latina 

Durante a Guerra Fria, boa parte da população dos países latino-americanos vivia sem acesso a moradia, saúde, educação, entre outros direitos humanos básicos. A miséria estimulava muitas revoltas e protestos populares.

O impacto da Revolução Cubana na América Latina contribuiu para fortalecer os grupos que defendiam o socialismo. Assim como ocorria em Cuba, as desigualdades sociais eram muito acentuadas nas demais regiões da América. Em contrapartida, outros grupos defendiam o modelo capitalista de desenvolvimento, argumentando que esse modelo valorizava a liberdade individual e o espírito empreendedor. 

Temendo que o exemplo de Cuba fosse repetido em outros países, grupos capitalistas e conservadores latino-americanos apoiaram golpes militares com o objetivo de impedir o avanço do socialismo.

Assim, setores do alto comando das Forças Armadas, apoiados pela elite civil, implantaram ditaduras em países latino-americanos. Em geral, esses golpes militares contaram com o apoio do governo dos Estados Unidos, que se empenhava em combater o socialismo na América. Entre esses regimes, podemos destacar os casos brasileiro (estudado no capítulo 10), chileno e argentino (que estudaremos a seguir)


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Fonte: elaborado com base em JOFFILY, Bernardo; JOFFILY, Mariana. Atlas hist—rico do Brasil.


Chile: golpe de 1973

Em 1973, com o apoio dos Estados Unidos, o general Augusto Pinochet (1915-2006) comandou um golpe militar no Chile que derrubou o governo socialista democraticamente eleito, em 1970, de Salvador Allende (1908- -1973). Um momento crucial desse golpe foi o ataque ao Palácio La Moneda, sede oficial do governo, e a morte do presidente Allende, que resistia às forças golpistas. O ataque começou com bombardeios aéreos à sede do governo e terminou com tanques e tropas do Exército.



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Retrato de Salvador Allende durante conferência em Buenos Aires. Fotografia de 1973. No dia 11 de setembro de 1973, o presidente eleito decidiu resistir à invasão do Palácio La Moneda durante o golpe militar. Seu corpo foi encontrado no Palácio ao final do bombardeio. 



Política e economia na ditadura
  
O general Augusto Pinochet assumiu o poder e instaurou uma ditadura que durou 17 anos. Nesse período, o governo dissolveu partidos políticos, censurou a imprensa, prendeu, torturou e matou milhares de pessoas consideradas de oposição. Calcula-se que a ditadura tenha sido responsável pela morte de aproximadamente 3,2 mil chilenos. Além disso, quase 40 mil pessoas foram vítimas de torturas e prisões arbitrárias. No plano econômico, o governo de Pinochet adotou medidas neoliberais, privatizando empresas do Estado, cortando gastos sociais com saúde e educação, reduzindo salários e facilitando o ingresso de investimentos estrangeiros no país. Augusto Pinochet deixou a Presidência do país em 1990. No entanto, permaneceu no comando das Forças Armadas por mais oito anos. Depois, ocupou o cargo, que ele mesmo criou, de senador vitalício. Assim, usando dos artifícios de imunidade jurídica e preservação do poder, conseguiu livrar-se de centenas de processos judiciais que o acusavam de possuir contas secretas no estrangeiro e cometer graves violações aos direitos humanos. Pinochet morreu aos 91 anos, em dezembro de 2006.


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Visitantes observam exposição no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago, Chile. A instituição se dedica a preservar a memória das vítimas e das famílias afetadas pelas violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado chileno entre 1973 e 1990. Fotografia de 2014. 

Argentina: golpe de 1976

 Em 1973, o veterano político e militar argentino Juan Domingo Perón (1895- -1974), então com 78 anos, venceu as eleições presidenciais do país, tendo sua esposa Isabel Perón como vice. No poder, Perón encontrou a Argentina mergulhada em uma grave crise econômica, com altas taxas de inflação e baixo poder aquisitivo dos trabalhadores. Com habilidade, Perón articulou um pacto social entre patrões e empregados, conseguindo controlar a inflação, valorizar os salários e desenvolver a economia. No entanto, em 1974, Perón morreu e a vice-presidente Isabelita, como era conhecida Isabel Perón, não conseguiu manter a estabilidade política e econômica do país em meio às rivalidades dos grupos de extrema direita e extrema esquerda. Aproveitando-se dessas agitações, os militares destituíram Isabelita por meio de um golpe de Estado em 1976.

Política e economia na ditadura

 Uma junta militar tomou o poder, fechou o Congresso, censurou os meios de comunicação e proibiu as atividades dos sindicatos. O governo militar implantou, segundo alguns historiadores, o terrorismo de Estado, organizando violenta repressão policial para perseguir seus adversários. Calcula-se que, nos anos da ditadura, tenham sido mortos cerca de 30 mil argentinos. No plano econômico, o governo militar apostou no neoliberalismo, reduzindo o tamanho do Estado, promovendo privatizações e abrindo as portas do país aos investimentos estrangeiros. Mas essas medidas não trouxeram bons resultados. A inflação permaneceu elevada, a indústria nacional se enfraqueceu, várias fábricas faliram e a dívida externa da Argentina cresceu assustadoramente. Tais políticas, de certo modo, repercutem no país até os dias atuais. Apesar do clima de terror imposto pelos órgãos de repressão do Estado, grupos de mães argentinas protestavam contra o desaparecimento dos filhos em frente ao Palácio do Governo, na Praça de Maio, em Buenos Aires. Elas ficaram conhecidas como as Madres de Plaza de Mayo, que encorajaram, aos poucos, outros movimentos sociais a lutar contra o arbítrio da ditadura. O fracasso econômico dos militares favoreceu, no início da década de 1980, a luta pela volta da democracia. A ditadura teve fim em 1983, com a posse do presidente Raúl Alfonsín (1927-2009), que, pouco tempo depois, ordenou a prisão dos antigos comandantes militares responsáveis pelos crimes bárbaros contra os direitos humanos.






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Organização pelos direitos da criança, Che Pibe, e Mães da Praça de Maio durante manifestação em Buenos Aires, Argentina. Há mais de quarenta anos, as Mães da Praça de Maio se reúnem pelo direito à memória e à justiça. 




Fim das ditaduras e neoliberalismo 

Nos anos 1970, alguns países governados por ditaduras militares na América Latina atravessaram um período de relativa prosperidade econômica, impulsionada sobretudo por fatores externos, como o aumento no preço das commodities. Aproveitando o crescimento econômico, muitos desses governos obtiveram créditos no exterior para financiar seu desenvolvimento, junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Estima-se que, entre as décadas de 1970 e 1980, a dívida externa dos países latino-americanos aumentou cerca de 1 000%. 

 No final dos anos 1980, a drástica queda no preço das commodities e a má administração pública contribuíram para que uma grave crise econômica se alastrasse pela América Latina. Essa crise econômica dificultou o pagamento das dívidas externas, enfraqueceu as ditaduras militares e levou à implantação de políticas neoliberais na região. 

Em muitos países latino-americanos, as políticas neoliberais foram impostas por credores internacionais como condição para a renegociação da dívida externa. 

De modo geral, o neoliberalismo defende a redução do tamanho do Estado e a ampliação do livre mercado e da iniciativa privada. A “receita” neoliberal defende, por exemplo, a privatização de empresas estatais, o controle da inflação e dos gastos públicos, a desregulamentação da economia, etc. Na maioria dos países da América Latina, a onda neoliberal ocorreu com a redemocratização, após o fim das ditaduras militares, com exceção do caso chileno. As políticas neoliberais foram implantadas, por exemplo: 

• no Chile pelo governo Augusto Pinochet (1973-1990), que reduziu essas políticas na América Latina, proibindo manifestações sindicais e privatizando a previdência social e algumas empresas estatais;

• no México pelo governo de Carlos Salinas de Gortari (1988-1994), que promoveu abertura econômica com os Estados Unidos, privatizações e estabilização monetária; 

• na Argentina pelo governo Carlos Menem (1989-1999), que impulsionou tarifas comerciais, controlou a inflação, diminuiu o número de funcionários públicos e fixou o valor do peso argentino em 1 dólar; 

• no Peru pelo governo de Alberto Fujimori (1990-2000), que privatizou minas e serviços públicos, controlou a inflação, realizou uma reforma tributária e reduziu os subsídios governamentais. Alguns economistas apontam que essas políticas tornaram os países da América Latina mais competitivos no mercado globalizado. Porém, em muitos casos, houve perdas sociais e trabalhistas, com aumento do desemprego e da concentração de renda. 




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Milhares de manifestantes se reúnem na Praça de Maio, em Buenos Aires, para protestar contra a visita da delegação do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Argentina. Fotografia de 2000.










Extraído do Livro: 
CONTRIM, Gilberto Historiador,9º ano : Ensino Fudamental, anos finais/ Gilbert Cotrim, Jaime Rodrigues. - e.ed. São Paulo: Saraiva, 2018.