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Primeira Guerra Mundial

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 


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Mapa da Europa 1914, mapa satírico do artista alemão Walter Trier (1890-1951). Biblioteca Britânica, Londres, Inglaterra.

A feroz concorrência por mercados, as disputas coloniais e o nacionalismo exagerado estão entre as causas da rivalidade internacional que marcou a Europa no início do século XX. O clima hostil levou as potências mundiais a estabelecer uma política de alianças, formando blocos rivais. Essas tensões resultaram na Primeira Guerra Mundial. Após quatro anos de conflito armado, a Europa ficaria arrasada. As perdas humanas e econômicas foram imensas.

Tensões europeias

No início do século XX, disputas imperialistas e nacionalistas geraram tensões entre diversos países da Europa. As tensões chegaram a tal ponto que culminaram em um conflito armado de proporções mundiais jamais vistas até então. Por isso, os historiadores chamaram esse confronto de Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

mulheres na primeira guerra mundial
Mulheres trabalhando em uma fábrica de munições na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Fotografia de 1914.


Imperialismo

A partir de 1850, as grandes potências europeias investiram na expansão de seus impérios, com o objetivo de conquistar mercados e territórios na África e na Ásia (imperialismo). Ao mesmo tempo, cada país industrializado protegia seu mercado consumidor e buscava dificultar a expansão econômica de seus concorrentes. Esse cenário gerou disputas, sobretudo, entre Inglaterra, França e Alemanha. 

No período de 1905 a 1911, por exemplo, os governos de França e Alemanha disputaram o território do Marrocos e quase entraram em guerra. Para resolver essa questão, em 1906 foi convocada uma conferência internacional na cidade de Algeciras, Espanha, na qual ficou decidido que o Marrocos continuaria sob domínio francês. A decisão não agradou aos alemães, o que provocou novos conflitos. Para evitar a guerra, o governo francês concedeu parte de seus domínios no Congo para a Alemanha. 

Pôster de propaganda da primeira guerra mundial
Pôster satírico de origem francesa sobre a Conferência de Algeciras, realizada em 1906, em que França e Alemanha disputaram territórios no Marrocos. Na imagem, o imperador alemão Guilherme II tem um papel com os dizeres “Caso marroquino” preso em seu capacete. O presidente francês, Émile Loubet, é retratado como uma cabra presa em um poço, como uma referência à fábula de La Fontaine A raposa e a cabra.

Nacionalismo 

No início do século XX, movimentos nacionalistas se desenvolveram na Europa, tais como o pan-eslavismo, o pangermanismo e o revanchismo francês.

• Os pan-eslavistas eram apoiados pelos governos russo e sérvio e pretendiam unir os povos eslavos da Europa Oriental. 

• Já os pangermanistas desejavam anexar à Alemanha os territórios da Europa Central habitados por povos de origem germânica. 

• O revanchismo francês defendia a recuperação dos territórios da Alsácia Lorena, região rica em minério de ferroo e carvão. Depois da Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), os franceses foram obrigados a entregar esses territórios para os alemães, o que gerou ressentimentos nacionalistas. 

Os movimentos nacionalistas pretendiam reunir povos de matrizes culturais semelhantes em um mesmo Estado, o que motivou projetos de expansão territorial. Essa pretensão gerou conflitos, por exemplo, entre a Sérvia e a Áustria Hungria, que disputavam o território da Bósnia-Herzegovina. Em 1908, o governo da Áustria Hungria anexou a Bósnia-Herzegovina, contrariando os interesses da Sérvia.


Cartaz de origem francesa sobre o revanchismo francês, 1886. Na imagem, a Alemanha é representada como um polvo que espalha seus tentáculos por diversos territórios. O animal é repelido por um militar francês (à esquerda) e um russo (à direita). Biblioteca Nacional da França


Corrida armamentista

Diante do risco de uma guerra, as principais potências da Europa estimularam a produção de armas e ampliaram suas forças militares, dando início a uma corrida armamentista. Nessa época, foram desenvolvidas armas como o canhão de longo alcance, a metralhadora, o lança-chamas, a granada de mão, o tanque, o gás lacrimogêneo, o gás mostarda e o cloro. Pela primeira vez, aeronaves e submarinos foram transformados em instrumentos de guerra. 

Além disso, os comandantes militares das potências europeias receberam autorização para recrutar mais soldados. Quando explodiu a guerra, calcula-se que 65 milhões de pessoas foram mobilizadas para lutar.

Política de alianças Os governos de alguns países europeus se aliaram para enfrentar seus rivais. Depois de muitas negociações, a partir de 1907 a Europa estava dividida em dois grandes blocos: 

• Tríplice Aliança – era inicialmente formada pelas forças da Alemanha, da Áustria e da Itália, apoiadas por turcos e búlgaros. A Tríplice Aliança era também conhecida como aliança das potências centrais.

 • Tríplice Entente – era formada pelas forças da França, da Inglaterra e da Rússia. A Tríplice Entente contou ainda com o apoio de sérvios, belgas, gregos e romenos. Ao longo da Primeira Guerra Mundial, essas alianças sofreram alterações e algumas forças mudaram de lado, a exemplo da Itália, que passou para o lado da Entente em 1915, depois de receber promessas de compensações territoriais

Explode o conflito armado 

O estopim da Primeira Guerra Mundial ocorreu em 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco Ferdinando (1863-1914), herdeiro do trono austríaco, foi assassinado em Sarajevo. Essa cidade era a capital da Bósnia- -Herzegovina, que estava sob domínio do Império Austro-Húngaro. O autor do crime foi o estudante Gavrilo Princip (1894-1918), membro de um movimento nacionalista da Sérvia. Após o assassinato de Francisco Ferdinando, a Áustria declarou guerra à Sérvia. Devido à política de alianças, as forças militares de muitas nações entraram no conflito. Entre julho e agosto de 1914, os governos que compunham a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança declararam guerra uns aos outros. Observe o mapa, que mostra a divisão política da Europa em 1914 e a organização dos países no contexto da Primeira Guerra Mundial.

mapas das alianças para a primeira guerra mundial
Fontes: elaborado com base em DUBY, Georges. Atlas historique: l’histoire du monde en 317 cartes. Paris: Larousse, 1987. p. 84; ATLAS da história do mundo. São Paulo: Folha de S.Paulo/Times Books, 1985. p. 249. 



Principais fases do conflito No início dos conflitos, uma parte da população europeia vivia uma espécie de euforia ligada à guerra. Entusiasmadas, muitas pessoas agitavam bandeiras, assistiam a paradas militares e aplaudiam os soldados que embarcavam nos trens rumo às batalhas. 

A euforia durou pouco tempo. Já a guerra se prolongou além do esperado. Nem todos tinham consciência do poder de destruição dos novos armamentos. Ao longo do conflito, a agitação inicial transformou-se em desespero. 

A Primeira Guerra Mundial durou quatro anos, que costumam ser divididos em três fases principais.

Primeira fase (1914-1915) – foi marcada pela movimentação das forças em confronto. Os alemães fizeram uma rápida ofensiva sobre os territórios da Bélgica e da França. Os franceses conseguiram organizar uma contraofensiva barrando o avanço sobre Paris. A partir daí, nenhum dos lados conseguiu vitórias expressivas, mantendo-se um equilíbrio de forças nas frentes de combate. 

Segunda fase (1915-1917) – foi marcada por uma guerra de trincheiras. Na fronteira entre Bélgica, França e Alemanha formaram-se linhas de ataque e defesa com trincheiras. Cada lado tentava manter sua posição e evitar que os inimigos avançassem. Essa fase foi penosa e cruel para os soldados. A Batalha do Somme (1916), por exemplo, resultou em mais de 1 milhão de combatentes mortos e feridos, sendo considerada uma das mais sangrentas da Primeira Guerra. 

Terceira fase (1917-1918) – foi marcada pela entrada dos Estados Unidos no conflito e pela saída da Rússia devido à Revolução de 1917. 

Brasil na Primeira Guerra Mundial 

A Marinha alemã, utilizando submarinos, afundou alguns navios estrangeiros alegando que essas embarcações levavam armas e alimentos para seus inimigos. Isso ocorreu, por exemplo, com os navios estadunidenses Lusitânia e Arábia e com o navio brasileiro Paraná. O episódio e outras razões levaram o governo brasileiro a declarar guerra à Alemanha. Em cooperação com os ingleses, os brasileiros patrulharam o Atlântico Sul e enviaram médicos e aviadores à Europa. 

trincheira da primeira guerra mundial
Fotografia, feita em 1915, de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Na imagem, tropa alemã monta uma árvore de Natal.


Destruição e fome Para historiadores como Lionel Richard, os efeitos da guerra não foram sentidos apenas pelos soldados em combate. As populações civis também sofreram com a perda de seus familiares, a destruição de suas casas, a devastação das cidades e a escassez de alimentos. Na Europa, um dos maiores dramas enfrentados pela população foi a fome. Na Alemanha, por exemplo, era difícil comprar carne, ovos, cereais, leite, manteiga e batata. Esses produtos só eram vendidos no mercado clandestino e custavam tão caro que apenas os ricos podiam adquiri-los. Durante a guerra, os governos adotaram medidas de racionamento, restringindo a quantidade de alimentos que cada pessoa podia comprar. A população pobre enfrentava diariamente longas filas para conseguir um prato de sopa distribuído pelos militares. Diante da miséria, muitas pessoas ficaram desnutridas e vulneráveis a doenças como tuberculose, tifo, cólera e gripe. Essas doenças também provocaram milhares de mortes.


mulheres nas ruas alemães na primeira guerra mundial
Mulheres procuram alimento na Alemanha pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Fotografia de 1918. 



A luta das mulheres Durante a guerra, a produção dos países em conflito foi direcionada para a fabricação de armas, munições, veículos de transporte, etc. Como milhões de homens participavam dos combates, um grande número de mulheres passou a trabalhar nas fábricas, especialmente na Inglaterra, na França, na Alemanha e na Itália. Terminada a guerra, muitas mulheres continuaram no mercado de trabalho e ampliaram sua luta por direitos, entre eles o direito de votar. Assim, as mulheres conquistaram o direito ao voto em 1918 no Reino Unido, na Alemanha e na Áustria; em 1919 na Bélgica; e em 1920 nos Estados Unidos. 


mulheres e o direito ao foto na primeira guerra mundial
Na fotografia de 1912, um grupo de mulheres sufragistas, que lutavam pelo direito ao voto, conversa diante de um comitê. Cleveland, Estados Unidos.




Fim da guerra 


O apoio econômico do governo dos Estados Unidos foi decisivo para a vitória da Tríplice Entente. A partir de 1918, os alemães ficaram isolados em suas fronteiras, sem condições de sustentar os combates. Em 11 de novembro de 1918, o governo da Alemanha assinou um armistício (acordo de paz) em situação desvantajosa. 

 Ao final da Primeira Guerra Mundial, cenas de destruição formavam a paisagem de diversos lugares da Europa. Os danos atingiram fábricas e plantações, casas e edifícios, pontes e estradas. As perdas humanas foram imensas. Alguns historiadores calculam que a Primeira Guerra Mundial deixou cerca de 9 milhões de mortos e 20 milhões de feridos. Isso sem falar nos milhões de pessoas que tiveram de fugir e abandonar as terras em que viviam.


Números de baixas da primeira guerra mundial
Fonte: elaborado com base em BARRACLOUGH, Geoffrey; PARKER, Geoffrey (Ed.). Atlas da história do mundo. São Paulo: Folha de S.Paulo, 1995. p. 248.



Pós-guerra e paz dos vencedores 

Após o fim da guerra, entre 1919 e 1920, houve conferências com representantes das 27 nações consideradas vencedoras. O principal local dessas reuniões foi o Palácio de Versalhes (França). Por isso, o conjunto de decisões tomadas ali ficou conhecido como Tratado de Versalhes. Esse tratado determinou que os alemães deveriam: 

• reduzir ao mínimo suas forças militares; 

• devolver a região da Alsácia-Lorena à França; 

• ceder alguns territórios aos governos da Bélgica, da Dinamarca e da Polônia; • dividir seu império colonial entre franceses e ingleses; 

• pagar uma indenização bilionária aos países vencedores. 

Nesse período, a situação política e social da Alemanha era instável. Pouco antes do fim da guerra, políticos social-democratas chegaram ao poder, dando início à República de Weimar (1918-1933). O nome Weimar é uma referência à cidade na qual foi elaborada a Constituição Republicana.

Não demorou muito para que as decisões impostas aos alemães provocassem reações intensas no país. Grande parte deles considerava as condições do Tratado de Versalhes injustas, vingativas e humilhantes.

manifestação na Alemanha na primeira guerra mundial
Alemães expulsos da Alsácia-Lorena após a assinatura do Tratado de Versalhes fazem manifestação em junho de 1919. 



No mapa seguinte as mudanças ocorridas na divisão política da Europa em 1921, ou seja, em um período imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial.

mapa político da Europa pós primeira guerra mundial
Fonte: elaborado com base em DUBY, Georges. Atlas historique: l’histoire du monde en 317 cartes. Paris: Larousse, 1987. p. 92-93. 



Liga das Nações

 Em 28 de abril de 1919, os membros da Conferência de Paz de Versalhes aprovaram a criação da Liga das Nações. Com sede na cidade suíça de Genebra, esse órgão internacional era formado por representantes de países de todos os continentes.

A principal missão da Liga das Nações era preservar a paz mundial, ideia sugerida por Woodrow Wilson (1856-1924), presidente dos Estados Unidos à época. 

No entanto, senadores estadunidenses vetaram a participação dos Estados Unidos na Liga das Nações, pois discordavam da fiscalização que os membros dessa entidade poderiam fazer sobre os tratados assinados após a guerra. Assim, o governo estadunidense desligou-se da Liga das Nações e manteve uma política internacional isolacionista. Além deles, outros países, como a Rússia, se afastaram da Liga e esse organismo se enfraqueceu.


PRINCIPAIS FASES DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 


principais fases  da primeira guerra mundial








Extraído do Livro: 
CONTRIM, Gilberto Historiador,9º ano : Ensino Fudamental, anos finais/ Gilbert Cotrim, Jaime Rodrigues. - e.ed. São Paulo: Saraiva, 2018