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Revolução Russa


REVOLUÇÃO RUSSA 


Em 1917, a Revolução Russa instituiu o primeiro estado socialista do mundo. Para alguns, essa revolução representou a esperança de mudanças profundas na sociedade. Para outros, foi uma ameaça à liberdade individual e à democracia. Os processos históricos dificilmente têm o mesmo significado para todas as pessoas. Isso porque eles são interpretados com base em diferentes perspectivas, interesses e fontes. Neste capítulo, veremos algumas interpretações a respeito da Revolução Russa.

Revolução russa de 1917
Trabalhador soviético famoso do monumento e mulher de Kolkhoz (mulher coletiva da exploração agrícola) do escultor Vera Mukhina em Moscovo, Rússia. Feito de aço inoxidável em 1937



Império Russo

O Império Russo (1721-1917) tinha um território de 22,4 milhões de km², ocupando parte da Europa e da Ásia. Em 1914, calcula-se que viviam nesse império mais de 150 milhões de pessoas. Era uma população formada por diferentes etnias, cada qual com sua língua e suas tradições.

Revolução russa de 1971
Fonte: elaborado com base em DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2006. p. 149. 


Governo dos czares 

No começo do século XX, a maioria dos países europeus adotava regimes políticos liberais. O Império Russo, porém, mantinha uma monarquia absolutista, comandada por um czar. Em russo, czar significa “césar”, que era o título dos imperadores romanos da Antiguidade. 

A Rússia foi governada por czares do século XVI até 1917. O czar centralizava o poder político e governava com o apoio da nobreza rural, que era proprietária da maior parte das terras cultiváveis do império. Era sobretudo das famílias da nobreza rural que saíam os principais funcionários do governo, os oficiais do exército e os membros do alto clero da Igreja ortodoxa. Além desses grupos, camponeses proprietários (os kulaks) e, posteriormente, alguns industriais também davam apoio político à monarquia absolutista russa. 

Economia e sociedade 

Durante o império, a economia russa era predominantemente agrícola, destacando-se na produção de trigo e de outros cereais. Estima-se que cerca de 80% da população era formada por camponeses (mujiques). A maioria desses camponeses era pobre e submetida a um regime de trabalho servil. Em 1861 a servidão foi abolida, mas as condições de vida dos camponeses não melhoraram. 

O império começou a se industrializar durante o governo do czar Nicolau II, entre 1894 e 1917. A instalação de fábricas foi financiada com dinheiro vindo da França, da Alemanha e da Bélgica. Os investimentos se concentraram em centros urbanos populosos, como São Petersburgo, Moscou, Odessa e Kiev, onde também se formou um operariado de aproximadamente 3 milhões de pessoas. 

Em geral, os operários trabalhavam mais de 12 horas por dia, recebiam salários miseráveis e sofriam maus-tratos. Além disso, tinham alimentação e moradias precárias. Diante dessa opressão social, os trabalhadores rurais e urbanos reagiram, criando entidades inspiradas em ideais anarquistas e socialistas.

revolução russa de 1917
Camponesas juntando feno em campo próximo a Moscou, c. 1900. Fotografia colorizada. Coleção particular.



revolução russa de 1917
Fotografia do czar Nicolau II junto aos operários de uma das maiores fábricas de munições do Império Russo por volta de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial. 



revolução russa de 1917 soldados
Tropas russas são recebidas com flores ao chegar em Marselha, França, para lutar durante a Primeira Guerra Mundial. Fotografia de 1916.




Oposição ao czarismo

No final do século XIX surgiram grupos de oposição à monarquia absolutista do czar. Entre esses grupos, destacou-se o Partido Operário Social-Democrata


Fundado em 1898. Esse partido se inspirava no marxismo, isto é, no conjunto de ideias desenvolvidas por Karl Marx (1818-1883). Desde sua fundação, existiam divergências no partido sobre a forma de organizar a luta contra o czarismo. Em 1903, as divergências levaram os membros do Partido Operário Social- -Democrata a se dividir em dois grupos: mencheviques e bolcheviques.

Os mencheviques (minoria), liderados por Georgi Plekhanov (1856-1918), defendiam que os trabalhadores poderiam conquistar o poder fazendo alianças políticas com a burguesia liberal. Os bolcheviques (maioria), liderados por Vladimir Ulianov, conhecido como Lenin (1879-1924), defendiam que os trabalhadores deveriam conquistar o poder por meio da luta revolucionária, derrubando a monarquia para formar uma ditadura do proletariado

Revolta de 1905

Em 1904, os russos entraram em guerra contra os japoneses em razão da disputa por territórios na Ásia, como a região da Manchúria e a da Coreia. Os russos foram derrotados, sobretudo, em função de sua frota ultrapassada e de uma série de revoltas contra o regime czarista. Essas revoltas contaram com a participação ativa de líderes mencheviques e bolcheviques. Em 22 de janeiro de 1905, uma multidão caminhou em direção ao Palácio do Czar, em São Petersburgo, com o objetivo de entregar um abaixo-assinado reivindicando uma reforma agrária, o fim da censura e melhores condições de vida.

O protesto foi violentamente reprimido pelas tropas do czar, que abriram fogo contra os manifestantes. Centenas de pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas. Esse episódio ficou conhecido como Domingo Sangrento. Depois do Domingo Sangrento, ocorreram outras revoltas envolvendo camponeses, soldados e marinheiros. Uma das revoltas mais marcantes foi iniciada pelos tripulantes do encouraçado Potemkin. Os marinheiros desse navio se rebelaram contra os maus-tratos e a péssima alimentação que recebiam. Ancorados na cidade de Odessa, os revoltosos pressionaram o czar a assinar o Tratado de Portsmouth, que pôs fim à guerra contra o Japão. O episódio foi representado no cinema, em 1925, pelo diretor russo Sergei Eisenstein (1898-1948). 


Rússia na Primeira Guerra Mundial

Em 1914, a Rússia envolveu-se na Primeira Guerra Mundial, combatendo alemães e austro- -húngaros. O governo czarista chegou a mobilizar 13 milhões de soldados. Mas o exército russo não estava preparado para enfrentar uma guerra tão longa e desgastante. Cerca de 1,7 milhão de soldados morreram nas frentes de combate.

Dois anos após o início da Primeira Guerra Mundial, a economia russa entrou em colapso. Os meios de transporte e a produção agrícola foram praticamente destruídos. Os preços dos alimentos subiram e a maioria da população sofreu com a fome.

De modo geral, as pessoas culpavam o governo do czar pelos problemas do país. Essa insatisfação motivou milhares de trabalhadores a realizar greves, que interromperam as atividades em grandes cidades como Moscou e Petrogrado (hoje São Petersburgo). Os protestos receberam o apoio de parte dos militares.




moscou capital da Rússia
Moscou é a atual capital da Rússia. Ali estão localizadas importantes instituições financeiras e científicas, bem como a estrutura governamental do país. No centro da fotografia, o Museu Nacional do Estado, na Praça Vermelha. Fotografia de 2018.




capital de império russo em 1917
A cidade de São Petersburgo foi fundada pelo czar Pedro, o Grande, no início do século XVIII, e serviu como capital do Império Russo por mais de 200 anos. Seu centro histórico é Patrimônio Mundial da Unesco. Na fotografia de 2016, a Catedral de Santo Isaac, maior igreja de São Petersburgo. 





Revolução de 1917 

A insatisfação popular, as derrotas na Primeira Guerra Mundial e a luta interna pelo poder – na qual sobressaíam socialistas e liberais – levaram o czar Nicolau II a abdicar do trono em 15 de março de 1917. Esse episódio pode ser considerado o momento inicial da Revolução Russa, que foi um longo processo.

 Governo provisório de Kerensky 

Após a queda do czar Nicolau II, foi instituído um governo provisório. O socialista moderado Alexander Kerensky (1881-1970) tornou-se o líder desse governo, que tomou providências como:
• redução da jornada de trabalho diária de 12 para 8 horas; 
• anistia aos presos políticos e permissão para os exilados voltarem ao país; 
• garantia das liberdades fundamentais do cidadão (direitos de expressão e associação). 

Porém, o governo provisório não resolveu os graves problemas que afligiam operários e camponeses. Além disso, manteve a participação russa na Primeira Guerra Mundial. 

Beneficiado pela permissão da volta dos exilados pelo czarismo, Lenin regressou à Rússia em abril de 1917 e passou a defender o fim do governo provisório, a retirada imediata da Rússia da Primeira Guerra Mundial, a nacionalização da propriedade privada e a formação de uma república dos sovietes (conselhos políticos de operários e soldados). Seus principais lemas eram: “Paz, pão e terra” e “Todo o poder aos sovietes”. 

 Governo de Lenin

 Em novembro de 1917 (outubro no calendário russo), os bolcheviques, liderados por Lenin e Leon Trotsky (1879-1940), partiram para o confronto armado contra o governo provisório. Ocuparam prédios públicos de São Petersburgo e depuseram o governo de Kerensky. Lenin se tornou presidente do Conselho dos Comissários do Povo e tomou diversas medidas, dentre as quais destacamos: 

a retirada dos russos da Primeira Guerra Mundial e a assinatura de um tratado de paz (Brest-Litovski) com a Alemanha

o confisco de propriedades privadas dos nobres e da Igreja ortodoxa (sem pagamento de indenizações) e distribuição de terras aos camponeses; 

a intervenção na vida econômica russa, com nacionalização de grandes bancos e fábricas e planejamento para todos os setores econômicos, incluindo a agricultura.

Vladimir Lenin
Vladimir Lenin foi um dos grandes nomes do socialismo russo


Guerra civil (1918-1921) 

Em 1918, pessoas ligadas à nobreza russa planejaram uma contrarrevolução para tirar os bolcheviques do poder. Essas pessoas contaram com o apoio econômico e militar dos governos de países como Inglaterra, França e Japão. 

Em resposta à contrarrevolução, os bolcheviques organizaram uma força militar chamada Exército Vermelho, formada por operários e camponeses. Essa força militar era liderada por Leon Trotsky, e sua cor estava associada aos ideais socialistas. O Exército Vermelho lutou contra o Exército Branco, que era comandado pelos generais da época da monarquia e cuja cor estava associada aos que se mantinham fiéis ao czarismo. 

Durante a guerra civil, o governo bolchevique adotou o chamado comunismo de guerra, marcado por medidas radicais, como a execução do czar e de sua família, o confisco da produção econômica (industrial, agrícola e comercial) para o abastecimento, a abolição da liberdade de imprensa e o julgamento sumário de opositores do regime. 

Em 1921, o Exército Vermelho venceu a guerra civil e o Partido Comunista (que reunia os bolcheviques) consolidou-se no governo da Rússia. A partir daí, os governos dos países ocidentais tentaram isolar a Rússia do cenário internacional. Para os grupos capitalistas, a revolução socialista representava uma ameaça à propriedade privada.


Construção da União Soviética

Depois da Primeira Guerra Mundial e de uma guerra civil, a Rússia ficou economicamente arrasada. O governo, liderado por Lenin, buscou recuperar a economia e, a partir de março de 1921, adotou medidas que ficaram conhecidas como Nova Política Econômica (NEP).

 Algumas medidas da NEP promoveram um retorno às práticas da iniciativa privada, como maior liberdade para a negociação de salários, permissão para o funcionamento de pequenas empresas privadas e autorização para os camponeses venderem sua produção agrícola depois de pagarem os impostos aos administradores do governo. Além disso, de acordo com a NEP, cabiam ao Estado a supervisão geral da economia e o controle de setores vitais, como o comércio exterior, o sistema bancário e as indústrias de base. 

A NEP obteve resultados satisfatórios. Estimativas feitas a partir de 1925 demonstraram que as áreas cultivadas no país foram ampliadas, o que permitiu maiores safras agrícolas e aumento dos rebanhos. Contudo, a produção industrial continuou estagnada devido à falta de modernas tecnologias e ao declínio do comércio exterior, em função do isolamento sofrido pela Rússia no cenário internacional.

CARTAZ DA REVOLUÇÃO RUSSA
Camaradas, arregacem as mangas para o trabalho!, cartaz criado por Nikolai Kogout em 1920. Nessa obra, o trabalho industrial é exaltado. Coleção particular.




Fundação da União Soviética

Em abril de 1922, Stalin (1879-1953) foi nomeado secretário-geral do Partido Comunista e prosseguiu combatendo a oposição política, incluindo as vozes discordantes dentro do próprio partido. Nesse mesmo ano foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Observe o mapa a seguir. 

MAPA DA RUSSIA NA REVOLUÇÃO DE 1917
Fonte: elaborado com base em ALBUQUERQUE, Manoel M. de et al. Atlas hist—rico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1986. p. 131.



A União Soviética passou a ser controlada por membros comunistas das diversas repúblicas. O órgão máximo do governo era o Soviete Supremo (Legislativo), responsável pela eleição de um comitê executivo (chamado Presidium) dirigido por um presidente com a função de chefe de Estado. Entre as principais tarefas do governo soviético estavam o planejamento da economia, a defesa militar das repúblicas e a definição da política internacional.

 Disputa pelo poder Após a morte de Lenin, em 1924, Trotsky e Stalin disputaram o poder na União Soviética. Trotsky e seu grupo defendiam que a revolução socialista deveria ser levada para todos os continentes. Defendiam, ainda, que o socialismo fosse construído como parte da revolução da classe proletária do mundo inteiro, e não apenas de um país.

 Essa era a tese da revolução permanente. Opondo-se a Trotsky, Stalin e seu grupo defendiam que a revolução socialista deveria se consolidar primeiro na União Soviética. Defendiam a construção do socialismo em um só país. A tese stalinista foi vitoriosa no XIV Congresso do Partido, que ocorreu em 1925, em Moscou.

Ditadura stalinista 

Mais tarde, em dezembro de 1929, Stalin, que era líder do Partido Comunista, passou a controlar os órgãos de decisão (burocracia) do partido. As ordens ditatoriais vindas da cúpula do partido eram inquestionáveis.

Seguiu-se, então, a perseguição a Trotsky, que perdeu suas funções no governo e, em 1929, foi expulso da União Soviética. Em 1940, quando estava exilado no México, Trotsky foi assassinado a mando de Stalin. 

Técnicos do governo soviético passaram a organizar a economia por meio de planos quinquenais (para cada cinco anos). Esses planos contribuíram para:

• desenvolver a indústria pesada – com destaque para a produção de aço –, que estava associada à exploração das reservas de carvão, ferro e petróleo; • ampliar a rede elétrica e mecanizar a agricultura;

• transformar as propriedades rurais em terras de uso coletivo (a chamada coletivização do campo); 

• promover a educação pública, ampliando o número de alunos, extinguindo o analfabetismo e construindo escolas e universidades. 

Dessa forma, a União Soviética se tornou uma das maiores potências econômicas do século XX. O lado cruel desse processo foi a implantação da ditadura stalinista, que perseguiu brutalmente seus opositores. 

No período de 1936 a 1938 ocorreram as chamadas depurações stalinistas, cujo objetivo era perseguir pessoas consideradas inimigas do Estado. Durante as depurações, milhares de cidadãos foram presos, torturados, mortos e condenados a trabalhos forçados em campos de concentração. No total, estima-se que o terror político da era stalinista tenha matado cerca de 500 mil pessoas, além de prender e torturar mais de 5 milhões de cidadãos. 

Visitante no Museu do Gulag, em Moscou, Rússia.
Visitante no Museu do Gulag, em Moscou, Rússia. Gulag era o nome do sistema de campos de trabalhos forçados da União Soviética. Fotografia de 2018. 



Algumas Leituras 👇

Disseram-me, querido irmão, que partiremos hoje ou amanhã. Pedi para ver-te. Disseram-me que era impossível; só posso escrever-te esta ca r ta: responde-me o quanto antes. Temo que tomes conhecimento de nossa sentença de morte. A caminho do Campo de Treinamento Semionov v i uma multidão; talvez tivesses recebido a notícia e sofresses por mim. Agora ficarás mais tranquilo no que me diz respeito. Irmão! Não estou desanimado nem deprimido. A vida é a vida em toda parte, a vida está em nós, não no que está fora de nós. Terei outras pessoas por perto, e ser um homem entre pessoas e continuar sendo um homem para sempre, não esmorecer nem sucumbir a qualquer infortúnio que me atinja – isso é a vida; essa é a tarefa da vida. Eu entendi isso. Essa ideia se incorporou a mim, penetrou em todo o meu ser. Sim, é verdade! A cabeça que criava, que vivia com a nobre vida da arte, que compreendia e aceitava as mais elevadas necessidades do espírito, essa cabeça já me foi arrancada. Restam-me as lembranças e as imagens que concebi mas ainda não formulei. Elas vão me dilacerar, é bem verdade! Mas restam- -me o coração e o mesmo ser que também pode amar, sofrer, desejar, recordar, e isso é vida, afinal. [...]

— Teu irmão Fiódor Dostoievski - USHER, Shaun. [Org.]. Cartas extraordinárias: a correspondência inesquecível de pessoas notáveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 170.

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Que Abalaram o Mundo, o mesmo título do livro do jornalista e revolucionário americano John Reed sobre os primórdios da revolução russa, culminando com a tomada do Palácio de Inverno, em São Petersburgo. Einsentein deixou-se fotografar sentado, displicentem e nt e , n o t r o n o q u e pertencera ao czar Nicolau. Poderia ser uma brincadeira, foi considerada uma provocação contrarrevolucionária. Os problemas prosseguiram no mesmo filme quando ele, fiel à história, quis destacar a impor tâ ncia de Trotsk y, Zinoviev e Kamenev no processo revolucionário. Eles já haviam caído em desgraça, sua participação foi eliminada na montagem, e o regime começou a suspeitar das propostas vanguardistas de Eisenstein, principa lmente de sua “montagem de atrações”. A consolidação de Josef Stalin no poder seria acompanhada por décadas de realismo socialista, um tipo de criação artística (no cinema, nas artes em geral) de uma mediocridade verdadeiramente aflitiva. Dentro desse novo quadro, a censura estética e política aplicou em Eisenstein os rótulos de “formalista” e “burguês”. Sua obra é constituída por relativamente poucos filmes, dos quais só dois ou três saíram como ele queria. Todos os demais sofreram a interferência da censura. Mas Einsenstein não pode ser avaliado só pelos filmes que fez. Ele deixou o legado de uma extensa produção teórica. Muita coisa do que disse ficou datada, mas seus textos discutindo o significado do cinema e da montagem continuam obras importantes de referência. Foi o representante máximo das vanguardas russas nos anos 1920, um dos grandes construtores da linguagem cinematográfica, tal como a entendemos hoje. David Wark Griffith, Orson Welles e ele. Sem essa santíssima trindade é possível que o cinema não tivesse evoluído da mesma forma e no mesmo ritmo.

MERTEN, Luiz Carlos. Cinema: entre a realidade e o artifício. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2005. p. 47-49.

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fábrica, ele parece brilhar, com uma aura dourada ao seu redor, pintada em uma silhueta vermelha sem nenhum detalhe, mas sabemos que é jovem e que olha com veemência para a frente. Fica claro que não representa um indivíduo, mas todo o proletariado, avançando rumo a um futuro mais brilhante que estão determinados a criar. A seus pés há uma engrenagem industrial e em sua mão, um martelo de trabalhador de fábrica. Com seu passo seguinte, pisará em um pedaço de solo árido, sobre o qual jaz quebrada a palavra KAPITAL, as letras espa lhadas sobre as pedras. O prato fora produzido vinte anos antes, em 1901, e permanecera em branco. O artista que fez o desenho, Mikhail Mikhailovich Adamovich, transformou a peça de porcelana imperial em uma lúcida e eficaz propaganda soviética. [...] Na Rússia de 1921, o ano do nosso prato, havia uma necessidade premente de mensagens de união e de esperança. O país estava mergulhado na guerra civil, em privações, secas e fome: mais de quatro milhões de russos morreram de inanição. Fábricas de propriedade dos trabalhadores, como aquela mostrada em nosso prato, produziam apenas uma fração do que geravam antes da revolução. Eric Hobsbawm vê a arte exemplificada pelo prato como um indício de esperança em meio a uma situação aparentemente desesperadora: “Ele foi produzido em uma época em que quase todas as pessoas envolvidas nesse processo passavam fome. Havia fome no Volga, e as pessoas morriam de tifo e de inanição. Era um momento em que se poderia dizer: ‘Este é um país prostrado no chão, como pode se recuperar?’ E creio que é preciso recriar, por meio da nossa imaginação, o ímpeto das pessoas fazendo isso e dizendo: apesar de tudo, ainda esta mos const r u i ndo esse futuro e aguardamos o futuro com enorme confiança”.

MACGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. p. 692-693.

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Dmitri Volkogonov (1928- -1995) foi coronel-general do exército soviético e, posteriormente, integrou uma comissão parlamentar que, entre 1991 e 1993, reviu o sigilo dos documentos e arquivos do Partido Comunista. A partir de sua experiência e pesquisa, Volkogonov escreveu o livro Stalin – triunfo e tragédia, do qual extraímos os seguintes trechos: Todos lembra mos de Stalin pelas fotografias, estátuas e monumentos onde ele frequentemente é mostrado com o braço erguido, apontando o camin ho, c om u m s or r i s o caloroso e olhos cintilantes. Poucos podem imaginar a profundidade de sua crueldade patológica, a ausência de bondade, a astúcia que se escondia por t rá s d aquela fachad a . Além dos líderes, políticos e de outros campos, e dos milhões de anônimos que sofreram em suas mãos, os próprios parentes não escaparam a sua insanidade. Um dos mais minuciosos pesquisadores da vida de Stalin, V. V. Nefedov, descobriu muitas coisas acerca do destino da família do tirano. [...] Stalin foi imparcial na sua crueldade: todos foram tratados igualmente, e ele se desinteressava pela pessoa tão logo ficasse “exposta”. É provável que só tenha havido uma exceção. Quando foi informado de que A lex a nder, irmão de sua esposa, fora sentenciado à morte como espião alemão, vociferou: “Vamos esperar que ele peça perdão.” Antes de sua execução, contaram a Alexander o que Stalin disser a , a o q u e r e p l i c o u : “Perdão de quê? Não cometi crime algum”. Foi devidamente fuzilado. Quando Stalin soube da maneira como o amigo de infância e cunhado morrera, disse: “Vejam como ele era teimoso: preferiu morrer a pedir perdão”.

VOLKOGONOV, Dmitri Antonovich. Stalin: triunfo e tragédia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. p. 338-340.

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Extraído do Livro: 
CONTRIM, Gilberto Historiador,9º ano : Ensino Fundamental, anos finais/ Gilbert Cotrim, Jaime Rodrigues. - e.ed. São Paulo: Saraiva, 2018